Falésias de Pipa e Tabatinga estão em situação de risco
Um relatório publicado por equipe da UFRN aponta situações de risco no
litoral do Rio Grande do Norte nos municípios de Tibau do Sul e Nísia
Floresta, agravadas pela erosão, elevação do nível dos oceanos e
consequências do aquecimento global. O Projeto Falésias, pesquisa em
parceria com a UFC, elaborou um diagnóstico de risco do desmoronamento
das falésias em Pipa e Barra de Tabatinga. Segundo o coordenador Rodrigo
de Freitas, foram encontradas alterações como fraturas, voçorocas
(erosão causada pela chuva), formação de reentrâncias, e cicatrizes de
colapso de blocos, representando, assim, um grande risco tanto para
pessoas ou veículos que transitem no local.
Litoral do Estado apresenta situações de risco agravados pela erosão, elevação dos oceanos e consequências do aquecimento
Com recursos provenientes do
Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o projeto desenvolveu suas
ações de março a novembro de 2021 e contou com uma equipe de geógrafos e
geólogos, além de estudantes de graduação que atuaram na coleta de
dados e imagens em alta resolução por meio de tecnologias como drones,
radares e scanners. “Usamos múltiplas tecnologias para identificar, de
uma forma muito precisa, todas as características naturais ou de ordem
antrópica que podem gerar o colapso de um bloco de falésia ou um
movimento de massa. Empregamos técnicas para mapear toda a morfologia da
falésia identificando suas fraturas e possíveis linhas de quebra”,
explica o coordenador.
Em Barra de Tabatinga, a
situação encontrada foi de grande risco devido à erosão pluvial causada
pela drenagem inadequada e por danos à infraestrutura, especificamente
na rodovia RN-063 que está a menos de 10 metros da borda da falésia em
alguns pontos, como no Mirante dos Golfinhos. Foi observado que o
intenso processo de erosão no local pode destruir parte da rodovia. Para
isso, o estudo conclui que o desvio do fluxo de veículos pesados, no
caso ônibus e caminhões, será de suma importância para a inclusão ou
exclusão desse fator na análise de risco. A desapropriação de
construções na margem da rodovia também pode ser uma ação beneficial
para o cenário apresentado.
Adriano Abreu
Mirante dos Golfinhos, em Tabatinga, é um dos locais mais visitados da praia
No município de Tibau do Sul, as
situações de risco são presentes nas praias do Centro, Baía do
Golfinhos, Madeiro e Cacimbinhas. Um dos maiores problemas identificados
diz respeito a a passagem de pessoas na base da falésia, quando a maré
está alta. As medidas mitigadoras apontadas no relatório estão
concentradas em ações sinalização, fiscalização, ordenamento e gestão do
território. A demanda por obras de engenharia também inclui a
retificação da drenagem em trechos da RN-003 e da Av. Baía dos Golfinhos
em Pipa.
Segundo o relatório, 60% do litoral
do Rio Grande do Norte apresenta padrão erosivo, que pode ser impactado
pela elevação do nível dos oceanos, tráfego de veículos, turismo
desordenado e consequências do aquecimento global. De acordo com o
professor, é importante ressaltar que falésias vivas são ambientes
naturalmente instáveis, com essa instabilidade podendo ser maior ou
menor de acordo com as variáveis citadas. O último relatório do Projeto
Falésias deve ser entregue em março quando as atividades serão
finalizadas.
Prefeituras tentam ações preventivas
Em
nota, a Prefeitura do Tibau do Sul informou que desde o deslizamento
que vitimou uma família no final de 2020 até o atual momento, a
Prefeitura vem trabalhando em conjunto com a equipe da UFRN, com suporte
logístico e técnico para elaboração do relatório. Além disso, explicam
em nota que realizam ampla campanha de conscientização em mídias sociais
sobre os riscos de caminhar e permanecer junto às falésias. A
Secretaria de Meio Ambiente mantém de forma permanente colaboradores que
auxiliam no alerta dos riscos na área onde ocorreu o acidente.
“Também
foram instaladas placas sinalizando sobre o perigo de deslizamento nos
pontos mapeados por equipamento de alta precisão e isolamento dos locais
mais críticos. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente irá analisar a
viabilidade de todas as recomendações, sempre tendo como prioridade a
segurança da população e preservação das áreas de proteção permanente”,
comunicaram.
Adriano Abreu
Placas alertam para riscos, mas algumas pessoas ignoram recomendações
De acordo com Bismarck Satiro,
secretário Adjunto de Meio Ambiente em Nísia Floresta, o resultado
apresentado já era esperado pela Prefeitura, que auxiliou as equipes nas
suas atividades de campo. “Antecipamos algumas medidas até mesmo antes
do relatório, como por exemplo, derrubamos um muro no Mirante dos
Golfinhos usado pelos e essa construção foi readequada para uma área
mais segura e afastada, com as proteções devidas. Também isolamos a área
para não permitir veículos na região da falésia e colocamos inúmeras
placas de advertência. Além disso, entramos em acordo com proprietários
privados e derrubamos algumas construções irregulares. Esperamos
trabalhar juntamente com o Estado e União, decidindo os encaminhamentos
de responsabilidade de cada ente”, pontuou.
Órgãos propõem ações para os problemas
No
dia 25 de janeiro, a Secretaria Estadual de Turismo realizou uma
reunião para apresentação do estudo com representantes da Defesa Civil,
Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Idema,
Departamento de Estradas e Rodagens (DER) e o coordenador do Projeto
Falésias, professor Rodrigo de Freitas. Marcos Carvalho, coordenador da
Defesa Civil estadual, celebrou o documento apresentado pela visão
fornecida sobre a condição das falésias nos locais estudados.
“A
partir dessa divulgação, uma série de ações estão sendo desenvolvidas
junto aos municípios, com o Estado coordenando a interação entre esses
atores. As recomendações são para que, por exemplo, o Departamento de
Estradas e Rodagens elabore estudos para alterar a drenagem das vias
apontadas e desvio do fluxo pesado. Com relação as outras recomendações,
iremos reforçar a sinalização e campanhas educativas para a população,
em especial, para pessoas que exploram as falésias tanto na parte
superior como na base”, diz.
Segundo o DER,
visitas as áreas mencionadas já foram realizadas na companhia dos
técnicos da UFRN onde discutiram algumas possibilidades. “Recomendamos a
elaboração de um estudo/projeto e posterior execução com recursos
vindos do Ministério do Desenvolvimento Regional. É toda uma área que
precisa ser estudada e transformada em projeto. Como abrange aspectos
que vão além da competência do DER, é interessante que recursos sejam
alocados pela União para complementar essas intervenções”, explica
Manoel Marques, diretor-geral do Departamento.
Para
o Idema, a retomada do Projeto Orla, deve ser beneficiada pelo estudo
realizado e pretende regulamentar planos de gerenciamento costeiro no
RN. Segundo Rosa Pinheiro, subcoordenadora de gerenciamento costeiro.
tal planejamento tem participação de todos os setores da sociedade
através de seus conselhos gestores.
“Estamos
trabalhando com uma metodologia que estabelece uma fase inicial de
diagnóstico dos locais, passando posteriormente para uma fase de
prognóstico onde vamos definir as medidasprioritárias de cada
município”.
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