A exigência do passaporte vacinal em bares e restaurantes do Rio Grande do Norte tem impactado no faturamento dos estabelecimentos, segundo interlocutores do segmento. Na avaliação de entidades, a queda no faturamento variou de 30% a 50% no primeiro final de semana.
Adoção do passaporte gerou queda no faturamento, segundo entidades do comércio. Maior impacto foi nos shoppings
Para Max Fonseca, um
dos diretores da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do RN
(Abrasel-RN), os relatos dos associados foram de que não houve problemas
entre os clientes na apresentação do documento, mas ao mesmo tempo
também foram registradas reclamações e desistências.
“Tem
casas nas quais os clientes se adaptaram tranquilamente e o movimento
ficou tranquilo. Porém, outras casas relataram que não tinham o
documento, voltavam e houve impacto negativo. O mais grave são os
shoppings, com impacto maior, de 30 a 50% a queda no faturamento
nossos”, disse.
Para o presidente do Sindicato
dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do RN (SHRBS), Habib
Chalita, o passaporte vacinal é um “desastre”.
“Continua
dentro da previsão que tínhamos, que seria um desastre o passaporte. As
pessoas, apenas por saber, não estão mais nem aguardando a fila para
mostrar o passaporte vacinal. Esperávamos isso já e está se
concretizando. Poucos estabelecimentos exigiram, e os que exigiram,
houve esse problema do consumo. Até agora essa queda varia numa média de
30% a 40%”, aponta o presidente do “É necessário um entendimento do
Governo para flexibilizar isso, que está comprovado que existe essa
queda no faturamento”, citou.
O decreto foi
publicado pelo Governo do Estado na última terça-feira (18). O documento
determina que ambientes fechados devem exigir a comprovação da vacina
contra a Covid, assim como ambientes abertos com capacidade superior a
100 pessoas.
Por conta dos efeitos do
passaporte no setor produtivo, a Fecomércio e a Câmara dos Dirigentes
Lojistas de Natal (CDL Natal) pediram ao Governo uma “flexibilização”.
Segundo as entidades, houve filas e queda nas vendas. Fecomércio e CDL
querem o fim da cobrança do passaporte em shoppings. Para isso, sugerem
ampliação da testagem em massa e campanhas de conscientização. A nota da
Fecomércio diz que o Governo informou que não tem como suspender o
passaporte.
Cobrança
A
reportagem da TRIBUNA DO NORTE visitou vários bares e restaurantes nos
bairros de Ponta Negra, Capim Macio, Lagoa Nova, Lagoa Seca e Candelária
no primeiro final de semana da exigência do passaporte vacinal. Em
todos, sem exceção, foi cobrado o documento para acesso ao
estabelecimento.
Garçons relataram à TN que
muitos turistas de outros Estados foram pegos de surpresa. “Tiveram uns
que pediram a senha do wifi pra baixar o passaporte da vacina. Não
estavam sabendo que precisava disso para entrar”, disse um profissional.
“O
pessoal está apresentando, mas alguns questionam, dizem que não é
viável. Algumas famílias ficaram do lado de fora, insistindo, mas
infelizmente não deixamos entrar. Está bem rígido, até para
funcionários”, comenta o gerente de um bar em Ponta Negra, Marcos
Antônio Galvão.
Quem foi pego de surpresa foi o
britânico Nadjo Anthony, professor de Inglês e de Economia, que mora há
dois anos em Natal. Ele não tomou a vacina e não conseguiu entrar numa
padaria em Ponta Negra que exigia o passaporte.
“Não
tenho o passaporte vacinal. É a primeira vez que não consigo ir às
compras. Tive problema para entrar no shopping também”, disse.
Em
vários restaurantes, gestores, garçons e funcionários informaram à TN
que foram registradas resistências de clientes e reclamações por ter que
mostrar o cartão de vacinação. Em alguns casos, houve desistência de
ingressar no local em razão da necessidade de apresentar o passaporte.
Nos bares e restaurantes visitados pela TN, em todos eles haviam placas
ou banners informando da necessidade do passaporte vacinal.
“Os
clientes não estão gostando muito não. Alguns vem, já mostram, mas tem
outros que exigem os nossos certificados de volta. Mesmo eles com o
comprovante, ainda reclamam. Perdemos clientes. Tem cliente que chegou
aqui e não tomou nem a primeira dose”, lembra Paloma Rocha, gerente de
uma padaria.
Para o servidor público Fábio
Honorato e a farmacêutica Priscila Araújo, acham a medida exigente. Eles
estavam numa pizzaria em Capim Macio, que pedia o cartão da vacina na
entrada.
“Eu acho exigente demais, devido as
vacinas terem aparecido e diminuído as mortes. Acho rigoroso”, disse
Fábio. “Eu acho correto em lugares que a quantidade de pessoas é grande.
Já em ambientes com espaços abertos, quantidade reduzida, acho exagero.
Mas, a gente segue, obedecemos do mesmo jeito”, disse Priscila.
O
secretário de Estado da Tributação do RN, Carlos Eduardo Xavier, disse
que a reclamação das entidades quanto ao passaporte vacinal “é míope” e
que a medida foi tomada para evitar novos fechamentos temporários.
“É
uma forma extremamente equivocada esse movimento. O outro caminho para
combater a pandemia é esse de cancelar, de fechar. Estamos tomando essas
medidas para tentar fazer com que as coisas continuem funcionando,
usando essa medida para estimular as pessoas a se vacinarem. É um
movimento míope dessas entidades porque o caminho que não seja a
vacinação é esse que o MP está propondo, cancelar, fechar”, disse.
Justiça vai decidir sobre grandes eventos
O
Governo do Estado informou nesta segunda-feira, por meio de nota, que
vai aguardar a decisão da Justiça acerca da suspensão dos eventos de
massa do Rio Grande do Norte. O Ministério Público do Rio Grande do
Norte (MPRN) e a Defensoria Pública do RN pediram que seja determinada a
suspensão de grandes eventos.
Para
isso, o Estado teria que alterar decreto estadual que entrou em
vigência na última sexta-feira (21). Na análise feita pelas
instituições, houve omissão da administração estadual no decreto
publicado no último dia 17 de janeiro.
O
Governo disse, na nota, que “o acompanhamento e avaliação do cenário
vem sendo feito diariamente”. Além disso, acrescentou que “o
posicionamento do Governo do Estado é de permanente análise dos diversos
indicadores para eventual tomada de decisão”. Por fim, o Governo
argumentou que a exigência do passaporte vacinal teve efeito positivo e
aumentou a procura por vacinas no último fim de semana em 95,6%.
A
omissão teria ocorrido, segundo o Ministério Público e Defensoria
Pública, devido ao Estado ter sido alertado pelo Comitê de Especialistas
da Sesap através de uma recomendação para que eventos de massa não
fossem realizados diante do risco iminente de colapso no sistema de
saúde. A ação civil pública ajuizada pelas instituições requer que o
Estado cancele todas as autorizações para a realização de shows com
grande público, sejam em locais abertos ou fechados.
Além
disso, pede que o Judiciário obrigue o Estado a se abster de conceder
novas autorizações para shows de massa, assim como a suspender tais
eventos até que a pandemia volte a atingir os patamares de contágio
alcançados em novembro e dezembro de 2021.
Segundo
o pedido, as medidas impostas até o momento, apesar de serem
importantes para a atividade econômica e buscam preservar o setor de
eventos, são insuficientes para reduzir os índices. “Eventos de massa
podem amplificar a transmissão do vírus, já que aglomerações são
super-espalhadores”, dizem.
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